Um menino, um rádio, o Palmeiras

Quem assiste futebol hoje em dia não sabe o que era o futebol e o mercado de transmissões esportivas nos anos noventa e inicio de dois mil. Atualmente é possível assistir qualquer partida que se queira ver, sempre existe uma opção e um streaming para transmitir a partida do nosso time de coração. Mas as coisas não eram assim quando eu tinha um pouco mais de dez anos de vida, e era um fissurado por futebol e principalmente pelo Palmeiras. Eu era um garoto que chegava a chorar quando o Palmeiras perdia, e por vezes ouvia minha avó falar baixinho, "Não conta para o Rafa que o Palmeiras perdeu". Eu só queria ver o verdão jogar, e o rádio foi meu grande companheiro entre 2000 e 2001.


Além de termos poucas transmissões na televisão, com apenas duas partidas por semana, uma no domingo e outra na quarta-feira, eu tinha que lidar com uma outra questão. Não sei o motivo, mas meu padrasto não me deixava assistir futebol, parecia que tinha prazer em não me deixar ver uma partida. Poxa vida, ele não gostava de futebol? De semana, me deixava ver o primeiro tempo apenas, depois tinha que dormir. Perdi muitos jogos entre 1999 e 2001, deixei de ver grandes craques jogarem. Para se ter uma ideia, até na padaria já fui, com apenas doze anos, para ver futebol. Enfim, deixando isso de lado, o meu avô, e obrigado por esse homem Senhor, me trouxe uma solução. Meu querido avô, que sempre me mimou, me deu um rádio com um fone de ouvido, e assim eu poderia vir a escutar as partidas do Palmeiras, e eu poderia acompanhar meu time jogar, através das emocionantes linhas do rádio. E olha, quantas emoções vivi.

Se não me falha a memória, o meu rádio era azul, e eu tinha um fone branco, mas com apenas um lado para se por no ouvido. Escutava as narrações de Dirceu maravilha e José Silvério, com comentário de Paulo Calçade e Fabio Sormani. Imagine minha alegria quando anos mais tarde vi esses meus companheiros de som na tela da televisão. Quanta alegria em ouvir Dirceu falar "Verde que te quero verde, se for para o gol, me chama que eu vou". Em 2000 escutei no rádio jogos emocionantes pela Libertadores da América, disputa por pênaltis e o roubo do Boca Juniors na final em plena La Bombonera. No ano seguinte, um Palmeiras complicado, sofrendo em várias partidas, mas ainda assim vivendo novamente uma emocionante Libertadores de 2001, novamente perdendo para o Boca Juniors. Ouvi tudo isso pelo rádio. Foram dois anos emocionantes, em que eu imaginava o jogo, as jogadas, os dribles, os gols. Ouvir futebol no rádio é algo único, e muitas partida nunca vi novamente, guardando as minhas emoções na voz de Silvério e Dirceu. Apesar de não ter visto muita coisa, eu ouvi, eu vivi, eu senti. Uma das memórias mais gostosas da minha infância é me lembrar do rádio, do meu avô e do Palmeiras.

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